Mahatma Gandhi
Mahatma Gandhi
Mohandas Karamchand Gandhi nasceu em Porbandar, na Índia, em 2 de outubro de 1869. Sua família pertencia à subcasta dos vaixás (mercadores e agricultores). Casou-se aos 13 anos – o que era costume na Índia – e viveu com sua esposa por mais de 60 anos, até ela falecer. Gandhi formou-se em Direito, na Inglaterra, e exerceu essa profissão na África do Sul durante certo período de sua vida. Também foi na África do Sul que ele iniciou sua luta pela melhoria de vida dos indianos que ali residiam. Na época, o país também era colônia da Grã-Bretanha, assim como a Índia. No final do século XIX, muitos indianos migravam para a África do Sul a fim de obter melhores condições de vida, uma vez que a situação de fome e miséria na Índia era ainda pior do que o preconceito que enfrentavam ao emigrar. Na África do Sul, eram proibidos de ficar nas ruas após as 21 horas e precisavam viver em guetos. Também não podiam possuir terras e eram obrigados a pagar uma taxa anual de residência pelo simples fato de serem indianos.
Um dos momentos mais marcantes na sensibilização de Gandhi para as questões sociais ocorreu em uma viagem de trem. Ele estava na primeira classe e foi abordado por um homem branco que se recusou a viajar no mesmo vagão que ele, por causa de sua cor. Como havia comprado o bilhete para a primeira classe, Gandhi achou que era seu direito ali permanecer. O homem saiu e voltou acompanhado por oficiais que exigiram sua retirada para o vagão da terceira classe. Como ele se negou a sair, foi empurrado para fora do trem. Esse episódio o fez tomar consciência dos problemas que os indianos enfrentavam na África do Sul e iniciar sua luta pela melhoria das condições de vida da população. Uma luta que começou pela indignação com as condições de vida dos indianos na África do Sul e continuou na Índia, tomando a forma da utopia transformadora. Vários livros influenciaram as ideias de Gandhi na construção de sua utopia por uma vida melhor em sociedade, como o Bhagavad-Gita, que mostra o diálogo entre Arjuna e Krishna a respeito do sentido da vida. Essa obra é considerada a expressão máxima da literatura da Índia antiga. Ao lê-la, ele foi profundamente influenciado pelo conceito de ahimsa (não violência) que encontrou. Achava que o Bhagavad-Gita estimulava uma vida de desprendimento material e usou-o como principal fonte de apoio espiritual na sua luta. Acreditava que a busca por bens materiais o atrapalharia na realização de sua utopia. Isso o influenciou de tal forma que, em 1906, com menos de 40 anos, fez o voto de castidade que manteve por toda a sua vida. Outras ideias que inspiraram Gandhi foram encontradas na tradição cristã expressa no Novo Testamento, no preceito cristão de dar a outra face, e no Sermão na Montanha. Além disso, ele foi marcado pelos livros Até as últimas, do pensador inglês do século XIX John Ruskin, que enfatizou que todos os tipos de trabalho deveriam ter igual valor e, acima de tudo, que o trabalho manual deveria ser visto como digno, e Desobediência civil, do estadunidense Henry David Thoreau, que considerava um dever de todo cidadão resistir à injustiça do governo.
A partir disso, Gandhi começou a realizar trabalhos manuais, como a limpeza da própria casa. Tendo isso em mente, fundou a comunidade autossuficiente Phoenix, uma das várias comunidades que ele instituiu ao longo de sua vida, tanto na África do Sul como na Índia. Apesar de já ser vegetariano, restringiu sua dieta a alimentos crus e começou a fazer jejuns. Mais tarde, os jejuns foram usados como forma de convencimento em seus protestos não violentos.
Quando retornou à Índia, em 1915, já era conhecido como um defensor dos Direitos Humanos que lutava contra a discriminação na África do Sul e como um homem que acreditava na resistência não violenta. Passou a tecer a própria roupa e desapegou-se totalmente dos bens materiais. Na Índia, fundou outra comunidade autônoma, cujos residentes deveriam jurar abster-se de carne, sexo e álcool. Ele pregou a resistência à dominação, por meio da não violência e da desobediência civil, e o boicote aos produtos britânicos. Envolveu-se em muitas causas e foi preso diversas vezes. Na verdade, a cada vez que desobedecia a uma lei, esperava ser preso e, com isso, mostrar a injustiça. Mas a maior de todas as causas pelas quais lutou foi a da libertação da Índia, fato que só ocorreu em 1947, pouco antes de seu assassinato, em 1948, por um radical hindu. Gandhi pensava não só na libertação da Índia da dominação inglesa, mas também era a favor de uma profunda transformação da sociedade indiana; defendia a convivência pacífica entre hindus e muçulmanos, os dois principais grupos religiosos da Índia, que viviam em conflito. Infelizmente, essa parte da luta ele não conseguiu realizar, pois, junto com a independência da Índia, ocorreu a divisão do território indiano e a criação do Paquistão. Dessa maneira, o território indiano foi dividido em dois: de um lado a Índia, hinduísta, e de outro o Paquistão, muçulmano. Ele foi ainda um defensor do fim da exclusão dos dalits, também conhecidos como intocáveis. A Índia era organizada oficialmente pelo sistema de castas. Segundo esse complexo sistema, boa parte da vida de uma pessoa já está traçada ao nascer, uma vez que ele determina o local de moradia, a profissão, o casamento e, sobretudo, o lugar de cada um na sociedade. Os dalits, ou intocáveis, eram pessoas sem castas e, por isso, estavam fadados a ser excluídos da sociedade indiana, pois eram considerados impuros. A eles eram destinados os piores trabalhos, como lidar com os mortos, desentupir esgotos etc. Pouco depois da morte de Gandhi, o sistema de castas foi abolido por lei. Entretanto, nunca deixou de existir de fato e, embora informalmente, ainda é um forte princípio de organização da sociedade indiana. Gandhi chamava os dalits de “filhos de Deus” e considerava a questão da intocabilidade um grave problema do hinduísmo. Porém, nunca foi contra o sistema de castas em si e não propunha seu fim, pois o que ele criticava era a hierarquia que o sistema criava e que gerava a exclusão social de milhões de pessoas no país. De qualquer maneira, sua preocupação com essa parte da população simplesmente ignorada pelos demais foi um importante passo na realização de sua utopia de uma sociedade melhor. Como forma de realizar seu intento, ele chegou até a limpar latrinas de dalits, o que chocou a sociedade indiana. Por sua abnegação e ajuda ao próximo, bem como pela forma exemplar como viveu, passou a ser chamado ainda em vida de Mahatma, ou seja, “grande alma”. Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola.
Em meados do século XX, sal era um produto caro, e muitos indianos não tinham como adquiri-lo, pois os ingleses o vendiam a preços exorbitantes. Ao mesmo tempo, os indianos eram proibidos de produzir sal. Gandhi, então, teve a ideia de rumar ao litoral para conseguir sal. Começou a marcha com apenas alguns seguidores, mas logo milhares de pessoas se uniram a eles em uma jornada de aproximadamente 24 dias até encontrar o mar. Chegando lá, Gandhi entrou no mar, orou e, com uma panela, pegou um pouco de água. Com a evaporação da água conseguiu produzir sal. Assim, infringiu a lei que impossibilitava os indianos de produzir o próprio sal. Estimulados por ele, todos os pobres ao longo da costa começaram a encher panelas de água do mar e a extrair o sal quando a água secava. Essa marcha deu autoconfiança aos indianos para não mais temer os ingleses, pois viram que era fácil não cooperar. Milhares de pessoas foram presas em toda a Índia simplesmente porque produziam o próprio sal. Os presídios ficaram lotados. Apesar da repressão, a não violência e a não cooperação prevaleceram, e o governo colonial britânico ficou em uma situação desagradável perante a opinião pública mundial, uma vez que as pessoas eram presas e sofriam violência pelo motivo banal de deixar a água secar em uma panela como forma de obter sal. Com essa ação, Gandhi mobilizou e sensibilizou não só a sociedade indiana, mas também a opinião pública mundial. A não cooperação, aliada ao boicote dos produtos, teve grande efeito econômico. Só assim o governo britânico começou a cogitar reconhecer a independência da Índia, fato que ocorreu em 1947, quase 20 anos após a Marcha do Sal, depois de muitas outras ações, jejuns e embates de Gandhi com o governo britânico.
Mohandas Karamchand Gandhi nasceu em Porbandar, na Índia, em 2 de outubro de 1869. Sua família pertencia à subcasta dos vaixás (mercadores e agricultores). Casou-se aos 13 anos – o que era costume na Índia – e viveu com sua esposa por mais de 60 anos, até ela falecer. Gandhi formou-se em Direito, na Inglaterra, e exerceu essa profissão na África do Sul durante certo período de sua vida. Também foi na África do Sul que ele iniciou sua luta pela melhoria de vida dos indianos que ali residiam. Na época, o país também era colônia da Grã-Bretanha, assim como a Índia. No final do século XIX, muitos indianos migravam para a África do Sul a fim de obter melhores condições de vida, uma vez que a situação de fome e miséria na Índia era ainda pior do que o preconceito que enfrentavam ao emigrar. Na África do Sul, eram proibidos de ficar nas ruas após as 21 horas e precisavam viver em guetos. Também não podiam possuir terras e eram obrigados a pagar uma taxa anual de residência pelo simples fato de serem indianos.
Um dos momentos mais marcantes na sensibilização de Gandhi para as questões sociais ocorreu em uma viagem de trem. Ele estava na primeira classe e foi abordado por um homem branco que se recusou a viajar no mesmo vagão que ele, por causa de sua cor. Como havia comprado o bilhete para a primeira classe, Gandhi achou que era seu direito ali permanecer. O homem saiu e voltou acompanhado por oficiais que exigiram sua retirada para o vagão da terceira classe. Como ele se negou a sair, foi empurrado para fora do trem. Esse episódio o fez tomar consciência dos problemas que os indianos enfrentavam na África do Sul e iniciar sua luta pela melhoria das condições de vida da população. Uma luta que começou pela indignação com as condições de vida dos indianos na África do Sul e continuou na Índia, tomando a forma da utopia transformadora. Vários livros influenciaram as ideias de Gandhi na construção de sua utopia por uma vida melhor em sociedade, como o Bhagavad-Gita, que mostra o diálogo entre Arjuna e Krishna a respeito do sentido da vida. Essa obra é considerada a expressão máxima da literatura da Índia antiga. Ao lê-la, ele foi profundamente influenciado pelo conceito de ahimsa (não violência) que encontrou. Achava que o Bhagavad-Gita estimulava uma vida de desprendimento material e usou-o como principal fonte de apoio espiritual na sua luta. Acreditava que a busca por bens materiais o atrapalharia na realização de sua utopia. Isso o influenciou de tal forma que, em 1906, com menos de 40 anos, fez o voto de castidade que manteve por toda a sua vida. Outras ideias que inspiraram Gandhi foram encontradas na tradição cristã expressa no Novo Testamento, no preceito cristão de dar a outra face, e no Sermão na Montanha. Além disso, ele foi marcado pelos livros Até as últimas, do pensador inglês do século XIX John Ruskin, que enfatizou que todos os tipos de trabalho deveriam ter igual valor e, acima de tudo, que o trabalho manual deveria ser visto como digno, e Desobediência civil, do estadunidense Henry David Thoreau, que considerava um dever de todo cidadão resistir à injustiça do governo.
A partir disso, Gandhi começou a realizar trabalhos manuais, como a limpeza da própria casa. Tendo isso em mente, fundou a comunidade autossuficiente Phoenix, uma das várias comunidades que ele instituiu ao longo de sua vida, tanto na África do Sul como na Índia. Apesar de já ser vegetariano, restringiu sua dieta a alimentos crus e começou a fazer jejuns. Mais tarde, os jejuns foram usados como forma de convencimento em seus protestos não violentos.
Quando retornou à Índia, em 1915, já era conhecido como um defensor dos Direitos Humanos que lutava contra a discriminação na África do Sul e como um homem que acreditava na resistência não violenta. Passou a tecer a própria roupa e desapegou-se totalmente dos bens materiais. Na Índia, fundou outra comunidade autônoma, cujos residentes deveriam jurar abster-se de carne, sexo e álcool. Ele pregou a resistência à dominação, por meio da não violência e da desobediência civil, e o boicote aos produtos britânicos. Envolveu-se em muitas causas e foi preso diversas vezes. Na verdade, a cada vez que desobedecia a uma lei, esperava ser preso e, com isso, mostrar a injustiça. Mas a maior de todas as causas pelas quais lutou foi a da libertação da Índia, fato que só ocorreu em 1947, pouco antes de seu assassinato, em 1948, por um radical hindu. Gandhi pensava não só na libertação da Índia da dominação inglesa, mas também era a favor de uma profunda transformação da sociedade indiana; defendia a convivência pacífica entre hindus e muçulmanos, os dois principais grupos religiosos da Índia, que viviam em conflito. Infelizmente, essa parte da luta ele não conseguiu realizar, pois, junto com a independência da Índia, ocorreu a divisão do território indiano e a criação do Paquistão. Dessa maneira, o território indiano foi dividido em dois: de um lado a Índia, hinduísta, e de outro o Paquistão, muçulmano. Ele foi ainda um defensor do fim da exclusão dos dalits, também conhecidos como intocáveis. A Índia era organizada oficialmente pelo sistema de castas. Segundo esse complexo sistema, boa parte da vida de uma pessoa já está traçada ao nascer, uma vez que ele determina o local de moradia, a profissão, o casamento e, sobretudo, o lugar de cada um na sociedade. Os dalits, ou intocáveis, eram pessoas sem castas e, por isso, estavam fadados a ser excluídos da sociedade indiana, pois eram considerados impuros. A eles eram destinados os piores trabalhos, como lidar com os mortos, desentupir esgotos etc. Pouco depois da morte de Gandhi, o sistema de castas foi abolido por lei. Entretanto, nunca deixou de existir de fato e, embora informalmente, ainda é um forte princípio de organização da sociedade indiana. Gandhi chamava os dalits de “filhos de Deus” e considerava a questão da intocabilidade um grave problema do hinduísmo. Porém, nunca foi contra o sistema de castas em si e não propunha seu fim, pois o que ele criticava era a hierarquia que o sistema criava e que gerava a exclusão social de milhões de pessoas no país. De qualquer maneira, sua preocupação com essa parte da população simplesmente ignorada pelos demais foi um importante passo na realização de sua utopia de uma sociedade melhor. Como forma de realizar seu intento, ele chegou até a limpar latrinas de dalits, o que chocou a sociedade indiana. Por sua abnegação e ajuda ao próximo, bem como pela forma exemplar como viveu, passou a ser chamado ainda em vida de Mahatma, ou seja, “grande alma”. Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola.
Em meados do século XX, sal era um produto caro, e muitos indianos não tinham como adquiri-lo, pois os ingleses o vendiam a preços exorbitantes. Ao mesmo tempo, os indianos eram proibidos de produzir sal. Gandhi, então, teve a ideia de rumar ao litoral para conseguir sal. Começou a marcha com apenas alguns seguidores, mas logo milhares de pessoas se uniram a eles em uma jornada de aproximadamente 24 dias até encontrar o mar. Chegando lá, Gandhi entrou no mar, orou e, com uma panela, pegou um pouco de água. Com a evaporação da água conseguiu produzir sal. Assim, infringiu a lei que impossibilitava os indianos de produzir o próprio sal. Estimulados por ele, todos os pobres ao longo da costa começaram a encher panelas de água do mar e a extrair o sal quando a água secava. Essa marcha deu autoconfiança aos indianos para não mais temer os ingleses, pois viram que era fácil não cooperar. Milhares de pessoas foram presas em toda a Índia simplesmente porque produziam o próprio sal. Os presídios ficaram lotados. Apesar da repressão, a não violência e a não cooperação prevaleceram, e o governo colonial britânico ficou em uma situação desagradável perante a opinião pública mundial, uma vez que as pessoas eram presas e sofriam violência pelo motivo banal de deixar a água secar em uma panela como forma de obter sal. Com essa ação, Gandhi mobilizou e sensibilizou não só a sociedade indiana, mas também a opinião pública mundial. A não cooperação, aliada ao boicote dos produtos, teve grande efeito econômico. Só assim o governo britânico começou a cogitar reconhecer a independência da Índia, fato que ocorreu em 1947, quase 20 anos após a Marcha do Sal, depois de muitas outras ações, jejuns e embates de Gandhi com o governo britânico.
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